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Clima Extremo: como preparar sua cidade

No momento em que este artigo foi redigido, 71.815 imóveis da maior cidade da América Latina estavam sem energia elétrica. A chuva deixou São Paulo no escuro, mais uma vez. No interior do estado de São Paulo, Ourinhos enfrentou ventos de 120 Km/h, ventania que levou estragos para diversas outras cidades.

O Amazonas enfrenta uma crise ambiental sem precedentes em 2024, com uma seca que chegou antecipada e já impacta mais de 330 mil pessoas no estado, segundo a Defesa Civil. A escassez de água está isolando cidades e comunidades e prejudicando a economia local. Atualmente, todos os 62 municípios do estado se encontram em situação de emergência devido à seca e queimadas.

A pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) analisou 60 anos de dados climáticos no Brasil e mostrou que as ondas de calor no país aumentaram mais de quatro vezes nos últimos 30 anos, tornando estes eventos climáticos extremos mais recorrentes e perigosos. Os dados também mostram que em seis décadas a média de dias seguidos sem chuva saiu de 80 para 100, mostrando um cenário propício para temporadas de seca.

O estudo também revela que nas últimas três décadas, eventos climáticos como ondas de calor foram de sete para 32, mostrando como o clima no Brasil pode estar mudando.

Um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), revelou que no Brasil, foram registrados 12 eventos climáticos extremos, sendo nove deles considerados incomuns e dois sem precedentes. Cinco ondas de calor, três chuvas intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone extratropical foram reportados para a OMM.

Como a sua cidade está se preparando?

O termo “cidades resilientes” foi oficialmente criado em 2010 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a campanha Construindo Cidades Resilientes. Desde então, a MCR2030, alinhada com os objetivos da Agenda 2030, tem consolidado esforços globais para capacitar comunidades a se prepararem para riscos, promovendo não apenas a sobrevivência, mas o florescimento sustentável.

O desafio é fazer com que estes conceitos não fiquem reservados apenas aos grandes centros urbanos, afinal, médias e pequenas cidades também enfrentam os mesmos problemas.

Faz parte da minha rotina de trabalho ler Planos Diretores dos municípios que atendemos, e, em sua grande maioria, pecam em vários aspectos. Por desconhecimento, por uma orientação falha, ou talvez simplesmente pelo comodismo que usar um modelo padrão. Muitos municípios brasileiros jogam fora uma grande oportunidade de olhar para o futuro com mais responsabilidade.

A Constituição Federal de 1988 determina que todas as cidades com mais de 20 mil habitantes devem, obrigatoriamente, elaborar um Plano Diretor para ser aprovado pela Câmara Municipal. Cabe aos municípios a definição da política de desenvolvimento urbano, que tem que ser fixada em lei.

Mas o Plano Diretor deve ser visto como mais do que uma obrigatoriedade para os municípios. É a oportunidade de olhar para a cidade que desejamos construir e, como ele tem normalmente a duração de 10 anos, é um olhar para o futuro.

Também é mais do que apontar onde serão as áreas loteadas:

É pensar em mais áreas verdes;

Trocar o asfalto por pisos permeáveis;

Alternativas para as moradias em áreas de risco;

Discutir a matriz energética da cidade;

Como as pessoas se movem;

Ações que favoreçam os pequenos negócios de bairro.

Enfim, pensar na cidade em que queremos viver.

Em poucas semanas, teremos o início de um novo mandato municipal, o momento ideal para provocar estas discussões. Seja você um político, um líder empresarial, um empreendedor ou um trabalhador, faça parte desta construção. Afinal, os desastres não escolhem suas vítimas.

 

Adriano Carvalho é ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico de Extrema (MG) e ex-Diretor de Atração de Investimentos na Invest Minas, é sócio e consultor da Directpar Desenvolvimento Econômico